terça-feira, 30 de abril de 2013

A tecnologia também quer ser verde


Trocar de telemóvel significa aceder a novas funcionalidades. 
Mas também contribuir para o problema do lixo electrónico.
E até pesquisar no Google ajuda ao efeito de estufa — muito mais do que a maioria das pessoas pensa.
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O mundo da tecnologia não é exactamente um bom exemplo ecológico. Uma das razões para o grande impacto ambiental das novas tecnologias é a rapidez com que os aparelhos electrónicos ficam obsoletos.
Como sabe qualquer pessoa que já tenha feito compras, é curto o período de tempo que demora para que a mais recente inovação no mercado passe a ser um aparelho ultrapassado — televisões, máquinas fotográficas, computadores e, especialmente, telemóveis são trocados com muita frequência. Aliás, o lançamento sucessivo de novos modelos, com pequenos aumentos de desempenho ou mais uma ou outra funcionalidade faz até parte da estratégia de negócio de algumas empresas.
Em média, os portugueses compram um telemóvel novo a cada dois anos. Isto leva a que milhares de telemóveis vão todos os anos para o lixo. É certo que nem todos são simplesmente deitados fora. Há empresas especializadas na reciclagem de alguns dos materiais usados, mas substâncias perigosas como o chumbo e o mercúrio acabam com frequência em lixeiras. Outra prática que reduz o impacto ambiental é a recuperação e venda de telemóveis a países em desenvolvimento. Alguns países asiáticos e africanos compram anualmente toneladas de telemóveis já usados nos países ocidentais.
Foi a pensar neste problema — e, também, na hipótese de aliciar clientes com maior consciência ecológica — que várias empresas do sector tomaram medidas para tornar os telemóveis mais “verdes”. Uma das mais populares no sector foi simplesmente reduzir o tamanho da embalagem, o que permite não apenas a poupança dos materiais de fabrico, mas também faz com que sejam transportados mais telemóveis num mesmo veículo, reduzindo assim a emissão de gases de efeito de estufa.
Outra medida já no mercado é a venda de telemóveis sem carregador. Tipicamente, comprar um telemóvel significa também comprar um carregador novo — mesmo que o carregador que já se tem em casa seja compatível com o aparelho recém-comprado. Recentemente, a Nokia resolveu colocar à venda, em Portugal e no Reino Unido, um modelo de telemóvel (com o comprido nome de Nokia 6700 slide Alluminium Raw Chargeless Phone) sem carregador. A ideia é que os compradores usem o carregador antigo. Mais: o dinheiro que a empresa poupa é entregue ao Fundo Mundial para a Natureza (conhecido pela sigla inglesa WWF), uma das maiores organizações ambientalistas do mundo.
Já a Samsung quis levar o conceito de biodegradável para um novo patamar e introduziu no mercado vários telemóveis feitos de milho. Na verdade, a descrição é mais surpreendente do que a realidade. A aparência destes aparelhos é normalíssima e apenas a estrutura exterior é de bioplástico, um material biodegradável à base de milho.
Moda ecológica
O consumo energético é também um problema conhecido — do portátil ao leitor de mp3, passando pela televisão e leitor de DVD, é fácil chegar à dezena de aparelhos ligados à tomada numa única casa. Por isso, abundam as hipóteses de carregar os aparelhos recorrendo a painéis solares. Há mini-painéis que podem ser comprados e estão preparados para carregar vários tipos de aparelhos.
Para o iPhone (um telemóvel que consome muita bateria e que na maioria dos casos obriga a carregamentos diários), há vários acessórios capazes de aproveitar a luz solar, desde carregadores externos a capas protectoras que já têm painéis instalados.
Em Portugal, a TMN anunciou esta semana um telemóvel “verde” chamado Blue Earth e fabricado pela Samsung (a mesma dos telemóveis de milho). O aparelho é de plástico reciclado e toda a parte de trás é um painel solar.
O Blue Earth traz ainda uma aplicação que permite contar os passos de uma caminhada e determinar quanto se poupou em emissões de dióxido de carbono (CO2) em relação ao mesmo trajecto feito de carro. Por fim, e naquilo que a TMN garante ser uma inovação mundial, o telemóvel é vendido com um cartão da operadora feito de papel reciclado, graças a uma tecnologia japonesa.
Também já existem várias mochilas e malas equipadas com estes painéis. No mês passado, a edição americana da revista Elle deu um empurrão a este conceito, ao pedir a vários designers (inclusive da conhecida marca Tommy Hilfiger) que criassem malas com painéis solares. O acessório destina-se a mulheres que façam questão de ter sempre o telemóvel ou leitor de mp3 carregados.
A iniciativa é uma parceria com o projecto Portable Light (luz portátil), criado por uma arquitecta americana e que visa introduzir sacos com painéis solares nos países do Terceiro Mundo. “A possibilidade de carregar um telemóvel e de ter alguma luz pode ser um passo para sair da pobreza”, explicou à agência Reuters a mentora do Portable Light, Sheila Kennedy.
Já as malas da Elle vão ser leiloadas no site da revista, por um preço que, avisou uma das directoras da publicação, não será barato.
A pegada do Google
O uso das tecnologias implica ainda gastos de energia em que a maioria das pessoas não pensa — até porque nem sequer aparecem na factura de electricidade.
Fazer uma pesquisa no Google ou em qualquer outro motor de busca implica obviamente o gasto de electricidade do computador do utilizador. Mas também significa outro gasto — e significativo — do lado dos poderosos computadores da empresa, que têm de processar a busca feita pelo cibernauta e devolver os resultados.
Os parques informáticos da Google, como acontece com as grandes empresas tecnológicas, estão instalados em enormes centros de dados. São milhares de processadores a trabalhar em simultâneo e a gastar electricidade. E, como os processadores aquecem, estes centros precisam ainda de ser arrefecidos por sistemas intensivos, o que significa mais energia consumida.
Resumidamente, isto quer dizer que por cada pesquisa feita no Google, há muita electricidade a ser gasta pela empresa. O mesmo é válido para compras que são feitas online, na Amazon, no eBay ou no iTunes.
Para além de tudo isto, e como a comunicação entre o cibernauta e os centros de dados destas companhias se faz através de fornecedores de acesso à Internet, vai ainda haver gastos energéticos ao nível da infra-estrutura de comunicações.
A pegada ecológica da Google é algo que está na base de críticas frequentes à empresa. Segundo números da própria multinacional, uma pesquisa simples (introduzir as palavras-chave e premir enter) produz 0,2 gramas de CO2. O problema são as pesquisas mais complexas, em que o utilizador tem de fazer várias tentativas para encontrar o que quer. No ano passado, o físico Alex Wissner-Gross, da Universidade de Harvard, publicou um estudo em que concluiu que uma pesquisa média (que demora alguns minutos) é responsável pela emissão de cerca de sete gramas de dióxido de carbono.
O académico notou então que duas pesquisas emitem a mesma quantidade do gás nocivo que uma chaleira a ferver. É muito menos do que secar o cabelo (40 gramas) ou andar um quilómetro de carro (uma emissão que pode ir dos 80 gramas no caso dos utilitários, aos 500 gramas, no caso de desportivos de topo).
Mas também há muito mais pesquisas no Google do que pessoas a usarem secadores ou a conduzirem automóveis.
Os números variam consoante as empresas de análise, mas as estimativas rondam os dez milhões de buscas — a cada hora.
É certo que comprar um telemóvel de milho ou uma mala com painéis solares da Tommy Hilfiger implica abrir os cordões à bolsa. Mas, pelo menos, da próxima vez que abrir o Google, pense bem se vale a pena fazer a pesquisa. Não custa nada.
Texto publicado na revista Pública, a 09.05.2010
Fonte: Publico

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